Celebração dos 166 anos da Implantação da SSVP em Portugal na Diocese de Viana do Castelo

A Sociedade de São Vicente de Paulo celebrou ontem, domingo, 26 de outubro de 2025, os 166 anos da sua implantação em Portugal, com uma jornada de fé, fraternidade e ação vicentina, realizada na Diocese de Viana do Castelo.

Um legado de 166 anos de caridade

Fundada em Paris, em 1833, por Frederico Ozanam e um grupo de jovens inspirados por São Vicente de Paulo, a SSVP chegou a Portugal em 1859, com a criação da primeira Conferência Vicentina, na Igreja de São Luís dos Franceses, em Lisboa.

Entre os pioneiros da implantação da SSVP no nosso país destacam-se o Conde de Aljezur (Francisco de Lemos de Faria Pereira Coutinho) e os padres da Congregação da Missão – Padres Vicentinos, Joaquim José Sena de Freitas e Emílio Eugénio Miel, cujos esforços marcaram o início de um movimento que hoje se estende por Portugal, com centenas de Conferências dedicadas ao serviço dos mais pobres.

Uma celebração de fé e comunhão

A comemoração nacional deste ano reuniu os vicentinos para um dia de partilha e espiritualidade em Viana do Castelo.

O programa teve início com a Eucaristia na Paróquia de Nossa Senhora de Fátima – Igreja da Sagrada Família, presidida por D. João Lavrador, Bispo de Viana do Castelo, que sublinhou na homilia a importância de “viver a caridade como expressão concreta da fé e testemunho do Evangelho no mundo atual”. No momento de ação de graças foi realizada a Tomada de Posse do novo Presidente do Conselho Central de Viana do Castelo, Diogo José Araújo Costa Silva.

Realizou-se uma visita ao Monte de Santa Luzia, seguida de almoço convívio no Refeitório Social do Centro Social e Paroquial de Nossa Senhora de Fátima, num ambiente de fraternidade e alegria, refletindo o verdadeiro espírito de família.

Durante a tarde, o grupo participou numa visita guiada pelo Rev. Pároco Vasco Gonçalves à Igreja de S. Domingos e ao Túmulo de São Frei Bartolomeu dos Mártires, seguida de uma Assembleia Vicentina no salão do convento, momento de partilha, reflexão e comunhão entre as Conferências presentes.

O encontro encerrou às 17:30h, com o tradicional corte do bolo de aniversário, simbolizando a alegria e a gratidão pelos 166 anos de serviço vicentino em Portugal.

Renovar a missão vicentina

Esta celebração foi, acima de tudo, um tempo de ação de graças e de renovação do compromisso vicentino: servir com humildade, proximidade e amor, continuando a levar esperança a quem mais precisa.

“A caridade é o fogo que mantém viva a chama da fé.”
Beato Frederico Ozanam

A SSVP Portugal agradece ao Conselho Central de Viana do Castelo, à Diocese de Viana do Castelo, à Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, ao Centro Social e Paroquial, e a todos os vicentinos que tornaram esta celebração possível.

166 anos a servir com fé e caridade — um legado que continua a transformar vidas.

 

Discurso dos 166 anos da implantação da Sociedade de São Vicente de Paulo em Portugal

Com grande alegria e profunda gratidão, reunimo-nos hoje, na bela Diocese de Viana do Castelo, para comemorar os 166 anos da implantação da Sociedade de São Vicente de Paulo em Portugal, agradecendo ao Senhor pelo dom e pela perseverança do carisma vicentino ao longo destas décadas.

A Sociedade de São Vicente de Paulo é um movimento católico internacional de leigos, fundado em abril de 1833 por um grupo de jovens universitários, entre os quais António Frederico Ozanam.

Desde a constituição da primeira Conferência Vicentina Portugal em 1859, erguida na Igreja de São Luís em Lisboa, foram fundadas centenas Conferências que se espalharam pelas Dioceses de todo o País. A missão de acolher, socorrer e dignificar os mais pobres animou homens e mulheres de boa vontade.

Temos registo da fundação da primeira Conferência Vicentina na Diocese de Viana do Castelo, a 24 de janeiro de 1892, agregada a Paris a 9 de maio do mesmo ano, a Conferência Vicentina de Santa Maria Maior. A Conferência foi constituída pelas mãos do Pe. Manuel Martins Capela, realizando-se a primeira reunião na Sala da Ordem Terceira do Carmo.

Para a época, e na sua condição de leigos, Ozanam e os seus companheiros exprimiam uma visão profética, enraizada na Palavra de Deus e na Tradição Cristã.

Hoje, a SSVP é uma organização internacional de leigos católicos que procuram o crescimento pessoal e espiritual no serviço aos que mais necessitam, em qualquer situação e lugar.

Ser Vicentino é optar por uma atitude de fé: o cristão que, iluminado pela Palavra de Deus, vive na esperança do mistério pascal da Ressurreição, torna-se portador de uma mensagem de esperança e fraternidade junto daqueles que sofrem e carregam a sua cruz. Neles, reconhecemos a presença de Cristo vivo.

Como ontem, as situações de pobreza são uma dura realidade na sociedade atual. Inspirados pelo pensamento social e cristão de Frederico Ozanam, nosso fundador, pensamento que o Papa Leão XIII magistralmente instaurou na sua encíclica Rerum Novarum, procuramos agir nas múltiplas formas de pobreza que marcam o nosso tempo.

A SSVP procura não apenas mitigar a miséria, mas também identificar e intervir nas suas causas. Atua prioritariamente no combate à pobreza e aos seus efeitos, mantendo-se igualmente comprometida com a análise e prevenção das suas raízes. A sua ajuda é destinada a todos os que dela necessitam, sem qualquer distinção de raça, cor, nacionalidade, ideologia política, religião ou condição social.

Ao longo do ano de 2024, nas 680 Conferências Vicentinas abraçaram a missão de serviço ao próximo cerca de 6.500 Vicentinos que contaram com a colaboração de 4.500 subscritores e voluntários.

No seu total, dentro do que foi possível quantificar foram apoiadas 22.188 famílias num total de 56.012 pessoas abrangidas.

Para ajudar a mitigar a fome, tantas vezes escondida na casa ao lado da nossa, foram entregues 165.591 cabazes alimentares.

No apoio à doença, a que recorrem muitos dos nossos idosos sem rendimentos suficientes para comprar medicamentos ou pagar uma consulta médica urgente foram apoiadas 13.392 pessoas.

No apoio à habitação, recorreram à ajuda no pagamento de rendas, despesas de água, luz ou gás 6.422 famílias.

A ação das Conferências Vicentinas passa pelo apoio a pessoas com comportamentos aditivos, no apoio medicamentosos e encaminhamento institucional, no auxílio a reclusos e às suas famílias, no apoio à reinserção social e na articulação junto da Segurança Social dos Tribunais e do IEFP.

É uma preocupação para nós valorizar a formação das crianças e dos jovens, agir na redução da desigualdade de acesso à educação como forma de promoção social, ao longo do ano foram apoiadas na educação 470 crianças e jovens de famílias mais desfavorecidas.

As Conferências Vicentinas desempenham um papel essencial não apenas no apoio direto às famílias em situação de vulnerabilidade, mas também na sua orientação, encaminhamento e capacitação. O objetivo é que cada pessoa acompanhada seja incentivada a assumir um papel ativo na construção do seu projeto de vida, fortalecendo a sua autonomia, autoestima e dignidade.

O relatório de 2025 sobre a Pobreza e Exclusão Social em Portugal com dados do Observatório Nacional da Luta Contra a Pobreza, publicado pela Rede Europeia Anti Pobreza em Portugal, refere que, sito,  No seu conjunto, estes resultados confirmam que a privação material e social em Portugal permanece profundamente estratificada por idade, género, escolaridade, nacionalidade e condição perante o trabalho, reforçando a importância de políticas diferenciadas, capazes de responder às vulnerabilidades específicas dos grupos mais expostos.

É nossa missão hoje seguir a coragem profética de Frederico Ozanam, junto das entidades locais com quem as Conferências Vicentinas têm parcerias, ser voz das dificuldades sentidas pelas famílias que apoiamos, apelando à construção de medidas políticas que possam mitigar as situações de pobreza com as quais nos deparamos na nossa missão. A dificuldade em assegurar uma habitação digna, o acesso a uma alimentação saudável, o combate à pobreza energética, a garantia de cuidados de saúde e de educação, e a inclusão plena de migrantes e refugiados.

O Papa Leão XIII lembrava que a verdadeira caridade cristã “não é mera esmola, mas amor que se faz justiça e dever”. É esse amor que guia o nosso caminho e dá sentido à nossa missão.

O Santo Padre Leão XIV na Exortação Apostólica Dilexi te, afirma que a fé não pode ser separada do amor pelos pobres, que o rosto dos mais pobres é expressão da presença de Cristo entre nós. Como exorta o Papa: a Igreja não pode existir sem ser uma “Igreja dos pobres e com os pobres”.

À luz dessa inspiração, dedicamo-nos também — com particular carinho e urgência — aos idosos em solidão, aos que sofrem com doenças físicas e mentais, aos marginalizados pelas desigualdades estruturais.

A Tantos Vicentinos que diariamente saem das suas casas ao encontro do um irmão em dificuldade, rendemos hoje a nossa homenagem e estima. Reconhecemos cada gesto de doação, cada hora oferecida, cada sacrifício escondido — são sementes de comunhão e fraternidade que ajudam a construir o Reino de Deus.

É graças à vossa fidelidade e à graça do Senhor que podemos continuar a missão que Deus nos confiou: ser canais do seu amor concreto.

Caros Vicentinos, concluo: que o amor encarnado nos pobres continue a vibrar em cada uma de nossas Conferências, que se torne em gestos concretos, em rostos que transformem vidas, em corações que amem e mãos que sirvam.

Que Nossa Senhora, modelo de serviço humilde e generoso e São Vicente de Paulo, patrono do carisma vicentino, intercedam por todos nós e pelos mais pobres.

Fernanda Capitão

Presidente Nacional da Sociedade de São Vicente de Paulo em Portugal

 

Scroll to Top